RESENHA | LÍNGUAS DE HERANÇA - RONICE MÜLLER DE QUADROS
Ronice Müller de Quadros é
linguista e pesquisadora brasileira, filha de pais surdos (CODA), conhecida por
seus trabalhos com a Língua Brasileira de Sinais, tem vários livros publicados
e uma carreira admirável.
A obra, Língua de Herança:
Língua Brasileira de Sinais de Ronice Müller de Quadros expõe os conceitos
sobre as línguas de herança, ou seja, a língua que os pais transmitem aos
filhos, juntamente com suas culturas, princípios e valores ou ainda a língua
transmitida por um pequeno grupo social, em que se predomina outra língua com
abrangência maior. Demonstrando através de pesquisas realizadas no Brasil e em
outros países, a variação da língua de herança entre falantes e/ou
sinalizantes.
Primeiramente, o livro
discorre sobre o uso da língua de sinais e o português e de quão fundamental é
que os pais transmitam aos filhos sua língua materna. A exposição precoce às
línguas favorece o desenvolvimento bilíngue da criança, pois utilizarão as duas
línguas como nativa fluentemente, essa transmissão comumente ocorre da língua
usada no seio familiar para vários outros espaços sociais.
Assim como no ambiente
familiar, as comunidades desempenham um papel importante na transmissão da
língua de herança, pois propagam suas raízes culturais e sociais, criando
conexões que ampliam e aprofundam a convivência do indivíduo com sua língua
nativa, pois a língua se determina socialmente. Muitas crianças sentem-se
diferentes e até envergonhadas da sua forma de falar quando colocadas em
ambientes convencionais, com uma língua diferente da sua, no entanto, no âmbito
social em que essa língua é valorizada, a criança descobre que existem muitos
iguais a ela e a sua família é comum a tantas outras.
A autora também faz menção
ao reconhecimento da língua de sinais através da Lei 10.436/2002 regulamentada
pelo Decreto 5.626/2005, favorecendo a inclusão dos surdos na sociedade. Ao sentir-se
análogo aos demais diferentes, a criança inicia o processo de entendimento no
meio em que está inserida. Independentemente de ser uma criança surda filhos de
pais surdos, ouvinte filhos de pais surdos (Codas) ou surdos filhos de pais
ouvintes, a criança necessita obter o contato com sua primeira língua
precocemente para que seu aprendizado não seja prejudicado, ou seja, obter o
input linguístico espontaneamente.
No entanto, para que a
inclusão ultrapasse barreiras obtendo um aprendizado de qualidade, a educação
escolar precisa oferecer um ambiente propício ao
ensino, dentro desse contexto Lacerda (2006) faz a seguinte colocação:
(…) É necessário conhecer o desenvolvimento humano e suas relações com o processo de ensino aprendizagem, levando em conta como se dá este processo para cada aluno. Devemos utilizar novas tecnologias e Investir em capacitação, atualização, sensibilização, envolvendo toda comunidade escolar. (…) Utilizar currículos e metodologias flexíveis, levando em conta a singularidade de cada aluno, respeitando seus interesses, suas idéias e desafios para novas situações. Investir na proposta de diversificação de conteúdos e práticas que possam melhorar as relações entre professor e alunos. Avaliar de forma continuada e permanente, dando ênfase na qualidade do conhecimento e não na quantidade, oportunizando a criatividade, a cooperação e a participação. (LACERDA, 2006, caderno cedes, v26.n.69 ).
O contato surdo/ouvinte é
de extrema importância para que a criança se torne um bilíngue bimodal, ter
acesso à sua língua de herança sinalizante e/ou ouvinte, mantendo amplo acesso
à comunidade com uma língua diferente da sua. O domínio da língua de sinais e
da língua portuguesa institui-se recursos que promovem a independência social
da criança, como aborda Souza, Tavares (2010):
(…) A capacidade de superação só se realiza a partir da interação com fatores ambientais, pois o desenvolvimento se dá no entrelaçamento de fatores externos e internos. (Sousa; Tavares 2010, p. 07).
Diante o exposto, o livro
Língua de Herança: Língua Brasileira de Sinais faz um amplo estudo sobre a língua
materna da criança, demonstrando por meio de pesquisas o quão relevante é o
contato precoce da criança com sua língua de herança e da necessidade do
aprendizado da segunda língua, para que haja interação com o meio social em que
vive, abordando estudos de alguns pesquisadores de forma objetiva e de fácil
entendimento, sendo de grande utilidade para aqueles querem explorar a Língua
de Sinais.
Enfim, constata-se que, de
suma importância é, que a criança seja exposta à sua língua nativa nos
primeiros anos de vida e que tenha amplo acesso a segunda língua, para que
obtenha um bom desempenho na aprendizagem e seja inserida no meio diferente do
seu habitual. Mas, não basta apenas ter contato com as línguas anteriormente
mencionadas, é necessário que sejam criados espaços que as incluam no meio
social, cultural e educacional, reconhecendo a necessidade de desenvolver
políticas públicas e métodos eficazes imprescindíveis ao processo de integração
e inclusão da criança. No campo educacional, o desafio maior é efetuar essa
inclusão como meio de democratizar o ensino visando à igualdade e a justiça
social.
Título:
Línguas de Herança – Língua Brasileira de Sinais
Autora:
Ronice Müller
de Quadros
Editora: Penso (2017)
Páginas: 264
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