Resenha | Toda luz que não podemos ver - Anthony Doerr
Veja os obstáculos como inspirações. (p. 178)
O que dizer sobre um livro que tem como cenário a Segunda Guerra Mundial? Com descrições tão realistas deste acontecimento trágico da nossa história, a narrativa nos faz reviver, a dor, a tristeza, a separação entre famílias e o medo sentido por aqueles que lá estiveram. É algo surreal, comovente e extremamente arrebatador. Confesso que fiquei algum tempo meditando sobre a leitura e, finalmente, conclui que jamais conseguirei descrever com exatidão tais sensações e sentimentos. Vejamos a sinopse:
Um romance sobre autopreservação e generosidade em meio às atrocidades de uma guerra que jamais deve ser esquecida. Marie-Laure vive em Paris, perto do Museu de História Natural, onde seu pai é o chaveiro responsável por cuidar de milhares de fechaduras. Quando a menina fica cega, aos seis anos, o pai constrói uma maquete em miniatura do bairro onde moram para que ela seja capaz de memorizar os caminhos. Na ocupação nazista em Paris, pai e filha fogem para a cidade de Saint-Malo e levam consigo o que talvez seja o mais valioso tesouro do museu. Em uma região de minas na Alemanha, o órfão Werner cresce com a irmã mais nova, encantado pelo rádio que certo dia encontram em uma pilha de lixo. Com a prática, acaba se tornando especialista no aparelho, talento que lhe vale uma vaga em uma escola nazista e, logo depois, uma missão especial: descobrir a fonte das transmissões de rádio responsáveis pela chegada dos Aliados na Normandia. Cada vez mais consciente dos custos humanos de seu trabalho, o rapaz é enviado então para Saint-Malo, onde seu caminho cruza o de Marie-Laure, enquanto ambos tentam sobreviver à Segunda Guerra Mundial. Uma história arrebatadora contada de forma fascinante. Com incrível habilidade para combinar lirismo e uma observação atenta dos horrores da guerra, o premiado autor Anthony Doerr constrói, em Toda luz que não podemos ver, um tocante romance sobre o que há além do mundo visível. Ganhador do Prêmio Pulitzer de Ficção 2015.
Toda luz que não podemos ver, é o segundo romance do autor Anthony Doerr, best-seller com mais de um milhão de exemplares vendidos. É um livro bem pesado, pois denota várias atrocidades da guerra. Uma daquelas leituras que você consegue ouvir o som das bombas, do tiroteio, dos gritos, enxergar a paisagem devastada, sentir os personagens vivendo a esperança de que tudo vai acabar bem.
– A senhora nunca fica cansada de acreditar, madame? A senhora nunca quer uma prova? [...]
– Você nunca pode deixar de acreditar. Essa é a coisa mais importante. (p. 296)
Os protagonistas são a francesa Marie-Laure e o alemão Werner. Ela uma menina cega, forte e corajosa, e ao mesmo tempo delicada e sensível. Uma personagem muito bem construída, juntamente com a linda demonstração de amor, amizade e companheirismo que há entre pai e filha, uma relação de uma doçura e delicadeza que aquece a alma. É emocionante a habilidade que o pai tem ao cuidar da filha, nunca impondo limites a sua cegueira, ao contrário, a todo momento fazendo com que Marie-Laure sinta-se viva e capaz. O alemão Werner, é um garoto de uma inteligência singular, ao ser recrutado para a guerra, logo se destaca entre os demais, por seu talento em consertar rádios e se torna uma peça de grande relevância para os nazistas, porém possui uma gentileza que as barbaridades da guerra não conseguiram lhe roubar. Assim, como a relação de Marie-Laure com o pai, a relação de Werner com sua irmã Jutta também é bem sólida e cativante.
Ele ajeita o cabelo dela atrás das orelhas; ele a ergue acima da cabeça. Diz que ela é sua émerveillement (maravilha). Diz que nunca vai abandoná-la, nem em um milhão de anos. (p.39)
Veja outras resenhas:
- Não é errado ser feliz – Linda Holmes
- Onde mora o amor – Jill Mansell
- O menino que sobreviveu – Rhiannon Navin
Os personagens secundários, foram todos muito bem arquitetados dentro da trama, há uma interligação e comunicação entre eles que torna as histórias de ambos conectadas, mesmo sendo citadas em espaços diferentes. Todos têm algo de interessante e emocionante a ser captado, com histórias de vidas que nos envolve por completo, nos faz vibrar com as conquista e chorar com a crueldade. Um romance sobre superação, coragem, amizade, gentileza, persistência e amor.
– A senhora acha madame que no céu nós realmente vamos ver Deus face a face?
– Pode ser que sim.
– E se você for cego?
– Acho que, se Deus quer que vejamos alguma coisa, então nós vamos efetivamente ver. (p. 296)
O livro possui capítulos curtos, porém a narrativa é bem complexa, são muitas expressões em alemão, por isso, é uma leitura lenta, já que houve paradas por diversas vezes para recorrer ao tradutor. Uma história não tão fictícia assim, já que sua base é real. O autor nos conduz por uma escrita refinada, com cenário típico da guerra minuciosamente detalhados, até os sons foram descritos esplendidamente, dando um toque de suspense na narração. Sem dúvidas, é uma leitura relevante e emocionante, merecedor do Prêmio Pulitzer de Ficção.
Título: Toda luz que não podemos ver
Autor: Anthony Doerr
Editora: Intrínseca (1ª Ed. 2015)
Páginas: 526
Gênero: Ficção Romance
Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
Trecho do livro
Se pelo menos a vida fosse como um romance de Júlio Verne, pensa Marie-Laure, e você pudesse passar as páginas para frente, quando precisasse, para descobrir o que estava para acontecer. (p. 296) |
Ela vai sorria. Ela vai bagunçar o cabelo dele. Ela vai sussurrar:
– As pessoas vão dizer que você é pequeno demais, Werner, que você veio da ralé, que não deveria sonhar grande. Mas eu acredito em você. Acho que você vai realizar feitos incríveis. (p. 33)
O que é a cegueira? Onde deveria haver uma parede, as mãos nada encontram. Onde não deveria haver nada, uma perna de mesa arranha sua canela. Roncos de carros nas ruas; murmúrios de folhas pelo céu; o sussurro do sangue em seus ouvidos. Na escada, na cozinha, mesmo ao lado da sua cama, vozes de adultos falam sobre desespero. (p. 35)
Um passo atrás dela , o pai inclina a cabeça para cima e oferece ao céu um enorme sorriso. Marie-Laure sabe disso mesmo à frente de seu pai, mesmo sem uma única palavra dele, mesmo sendo cega – [...] ele está escancarando um sorriso para a beça que cai.
[...] Mais meio segundo e as mãos do pai erguem Marie-Laure por baixo dos braços, balançando-a para o alto. Ela sorri, e ele ri uma risada genuína, contagiante, uma risada que ela não quer esquecer nunca, pai e filha girando na calçada em frente ao seu edifício, rindo juntos enquanto flocos de neve escapam dos galhos acima deles. (p. 48)
Siga a lógica. Todo efeito tem sua causa, e todo problema tem sua solução. Toda fechadura tem sua chave. (p. 114)
Todos vocês vão se lançar na mesma direção, com o mesmo ritmo, para a mesma causa. Vocês vão se provar de confortos; vão viver apenas pelo dever. Vai comer país e respirar nação. (p. 141)
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