Resenha | Todas as cores do céu - Amita Trasi
Todas as cores do céu, o primeiro romance de Amita Trasi, é um livro impactante, esboça uma história densa sobre o sistema de castas na Índia, que mesmo nos dias atuais, tem alguns costumes preservados. Um cenário realista transmitido através da fictícia vida das personagens Mukta e Tara.
Sinopse: Aos dez anos, Mukta é forçada a seguir um ritual de sua casta, que, essencialmente, a torna uma prostituta. Para salvá-la deste horrível destino, um homem a resgata e lhe dá um lar. Tara, filha dele, cria um laço especial com a criança recém-chegada ― um vínculo digno de irmãs. A amizade sofre um baque definitivo, entretanto, quando Mukta é sequestrada. Anos depois, vivendo nos Estados Unidos, Tara retorna à Índia para encontrar a amiga que, ao que tudo indica, foi submetida novamente à prostituição. Mas a extrema pobreza em Bombaim se mostra uma realidade mais difícil do que Tara consegue suportar. Relato emocionante e realista da Índia contemporânea, Todas as cores do céu mostra como o sistema de castas explora os mais fracos, e como o amor nos faz buscar a reparação para nossos atos mais horríveis, vencendo barreiras impenetráveis.
Título: Todas as cores do céu | Autor: Amita Trasi Tradução: Caroline Chang |》Editora: HarperCollins (1ª Ed. 2019) | Gênero: Romance | Páginas: 384 | Classificação: ⭐⭐⭐⭐⭐
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Amma me chamou de Mukta, sabe. — Eu ri. — Já que significa liberdade, talvez ela tenha pensado que eu seria livre um dia.
Mukta era uma linda garotinha doce e amável, proibida de ir a escola, por causa de sua casta, tinha esperança nos olhos, vivia com a mãe e avó. Elas moravam na periferia de uma pequena Aldeia no sul da Índia, chamada Ganipur, onde as mulheres de casta infeiror são chamadas de devadasis e meninas a partir dos oito anos eram oferecidas em casamento a deusa Yellamma, para serem exploradas. Sua mãe era uma mulher forte e decidida a impedir que a filha não tivesse o mesmo destino que ela, enquanto sua avó era apegada as tradições.
Acho que a nossa vida é como o céu. Às vezes, quando você olhar para o céu, ele vai estar escuro. Você não vai saber em quem confiar. Vai se perguntar se alguma pessoa conseguirá tirar você da escuridão. Mas, acredite em mim, algum dia o nosso céu vai brilhar de novo. E vai ter a aparência e o cheiro de esperança. Não quero que se esqueça disso. Quero que tenha esperança, não desista.
Do outro lado da história, temos Tara uma criança inteligente e sapeca que morava com seus pais em Mumbai. Eram Brâmanes de casta superior. Seu pai Ashok trabalhava numa ONG que ajudava resgatar crianças exploradas sexualmente. Diferente de Mukta, Tara tinha o direito de frequentar a escola e de viver como uma criança.
SABE, QUANDO ENCONTRAMOS UM VERDADEIRO AMIGO, UMA ALEGRIA estranha de repente salta de dentro de nós — uma alegria que você não conseguira encontrar sozinho até então, uma alegria que você espera carregar consigo quando seguir adiante.
Após ser resgatada das tradições daquela aldeia, Mukta e Tara vivenciam uma amizade em que mesmo morando sobre o mesmo teto, seus mundos continuavam diferentes. Mas, com a visão doce de uma criança, Mukta enxerga o que de melhor a vida estava lhe oferecendo, mesmo que ainda injusto. Porém, quando, seu fatídico destino volta a tona, Mukta involuntariamente, é obrigada a aceitá-lo.
Somos como legumes, todas nós, prontas para sermos vendidas desde o dia em que nascemos.
O livro intercala os plots entre Mukta e Tara, ambas jovens adultas, com as lembranças do passado e as emoções do presente. Anos mais tarde, após a separação das meninas, Tara inicia uma busca incessante por Mukta, e esse é um processo angustiante, pois a autora narra o sistema de exploração sexual infantil e adulto que é um dos principais temas do livro, o tráfico de mulheres de casta inferior é o cerne da história, que é bem pesada, principalmente pelas descrições dos ambientes onde essas mulheres eram submetidas a viver e das terríveis condições pelas quais passavam.
Ainda desejo que todos abram os olhos e entendam que a humanidade é mais importante do que as castas ou até mesmo do que a religião. Que todo ser humano tem direitos e que tratar mal os outros é um pecado.
Todas as coisas do céu possui uma narrativa envolvente, apesar da indignação que sentimos, por saber que mesmo depois da abolição do sistema de castas, ainda existem aldeias com tais tradições. Crianças sendo tratadas como empregadas ou sendo vendidas pelas próprias famílias para serem exploradas sexualmente é terrível. A autora conduz muito bem a trama, os personagens são bem construídos e o desenvolvimento da história em dois tempos deixa o leito ansioso por saber o próximo passo. É um livro comovente, a história é incrível e triste, daqueles que você se pergunta a cada página lida, se o personagem ainda poderá ter um final feliz.
Fica mais uma dica de leitura, um livro arrebatador que emociona do início ao fim.
Citações “Todas as cores do céu”
Dizem que o tempo cura tudo. Não acho que seja verdade. À medida que os anos passaram, comecei a achar estranho como coisas simples ainda podem nos fazer lembrar de tempos terríveis ou como o momento que nos esforçamos tanto para esquecer se torna nossa lembrança mais nítida.
[...] o céu era como um palco onde as nuvens formavam personagens, metamorfoseando-se em diferentes formas que vagavam em direção umas das outras. O céu nos contava mais histórias do que jamais poderíamos ler, mais do que nossas imaginações poderiam dar conta.
A cada brisa gentil que acariciava minhas bochechas, Amma dizia que as mãos de Deus estavam pintando meu rosto. Ela me dizia que Deus vigiava todo e qualquer movimento meu.
— A mágica está nas palavras, minha menina querida. Quando você dobra os pensamentos de alguém com palavras que tocam a alma, isso se chama inspiração.
Acho que a nossa vida é como o céu. Às vezes, quando você olhar para o céu, ele vai estar escuro. Você não vai saber em quem confiar. Vai se perguntar se alguma pessoa conseguirá tirar você da escuridão. Mas, acredite em mim, algum dia o nosso céu vai brilhar de novo. E vai ter a aparência e o cheiro de esperança. Não quero que se esqueça disso. Quero que tenha esperança, não desista.
Há uma coisa que todos temos em comum, independente da casta ou da religião: todos somos feridos ao longo da vida, todos queremos sobreviver e ser felizes, e todos precisamos ser bem tratados. Afinal de contas, não escolhemos onde nascemos, mas podemos dar duro e pavimentar nosso caminho para o sucesso. E todas as pessoas da terra merecem essa chance.
— Você deve ser gentil. Todos são iguais aos olhos de Deus.
— O que você ganha com esses livros, afinal?
Ela fechou o livro que estava lendo, pensou um pouco e disse:
— É melhor que o mundo em que vivemos.
O único jeito de corrigirmos nossos erros é tentando desfazer o mal que causamos.
Não abandonem a esperança. Às vezes, um ato de bravura é melhor do que uma vida inteira vivida como uma covarde, como uma escrava.
É o amor que faz você abandonar o medo, permite que flutue na vida, jogando toda a precaução ao vento.
Os fios da vida nem sempre são tecidos como queremos; às vezes, o padrão ao final é diferente do que imaginamos que seria.
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